A Curadoria

Do princípio aos confins da vida, e os impactos de nossa existência

(Texto curatorial de Alexandre Milagres e Tadeus Mucelli)

Sociedade pós-digital, rede biohíbrida, poética orgânico-máquina, corpos bio-robóticos, inteligências artificiais de silício, peles como interface, sexto sentido matemático, narrativa ficcional de bioimpressoras de fósseis 3D, estímulos vibratórios sonoros que constroem territórios reais e ficcionais, animais inorgânicos em um híbrido entre fauna, flora, reinos animal e vegetal.

Afinal, sobre o que estamos falando? O que estamos pensando? Quais são as nossas perguntas diante de um mundo tão complexo e em constante mudança? Como arte e ciência através da tecnologia vem conduzindo de forma conjunta a produção de conhecimento relevante em nossa sociedade?

Em um hibridismo de visões, estão presentes artistas, pesquisadores e cientistas pertencentes a diferentes gerações, formações e trajetórias que recebem através desta exposição o reconhecimento de suas narrativas entre hipóteses artísticas e pesquisas científicas inovadoras.

Partimos da constante dúvida sobre nossas origens, das quais unicamente temos ciência de que atualmente estamos entrelaçados numa rede biológica e pós-digital. Se iniciamos nossa origem a partir da organização de formas simples de vida em direção a modelos mais complexos, estamos mantendo durante todo esse período milenar uma capacidade ora destruidora, ora modificadora de um ecossistema cada vez mais integrado porém fragilizado.

As obras e trabalhos exibidos tratam de uma condição imanente e necessária de nossa sociedade; a busca sistemática de compreender as formas de vida, as ações do humano e dos novos agentes inumanos em nosso planeta na busca de um equilíbrio necessário à sobrevivência de vidas reais e artificiais.

Por ora, temos em uma das mãos o poder e conhecimento graças à arte e a ciência, de forma disruptiva a produzir ações profundas em uma estrutura global das relações entre um sistema orgânico e um sistema digital do viver que se imbricam simultâneamente. Por vez, na outra mão insistimos na capacidade da produção de controle não só da natureza de forma destrutiva, mas também através das ações das quais terceirizamos a responsabilidade do que é humano a outros agentes, como a tecnologia à favor dela mesma.

A exposição coloca o disruptivo e o destrutivo em uma balança. Balança essa que se encontram a arte e ciência como niveladoras de uma capacidade de entendimento e de produção de soluções, tolerância, hibridismos e conhecimento.

A arte e ciência, representados pelos artistas desta exposição não produzem respostas, mas conduzem a reflexões necessárias em um tempo onde o pensar não é só um privilégio, mas se apresenta quase como uma utopia.


Sobre os trabalhos

Em “Ilha Sonora” somos apresentados ao potencial poético do fazer científico, que nesta obra serve de base para ficcionalizar os métodos, experimentos e expedições na busca pela ilha. Esta busca, ainda que ficcional, levanta questões essenciais sobre os impactos sonoros que a presença humana impõe aos diversos biomas do planeta.

Estes impactos nos levam também a “Campos Elísios”, espaço distópico onde sobrevivem seres digitais inspirados em um ser real – Elysia chlorotica – que está na fronteira entre reinos vegetal e animal. Seres híbridos e digitais, cada um com sua voz, propondo questões sobre as capacidades construtivas e destrutivas do ser humano e a necessidade de nos reconectarmos com os demais seres que compartilham conosco este habitat.

Entre visões de futuro e reflexões sobre nosso passado, “Culturas Degenerativas” traz um microorganismo em parte digital, parte biológico, que coloniza livros físicos e textos virtuais que tratam da imposição histórica do homem sobre a natureza. Um fungo que sobrevive e se modifica a partir dos textos que devora e que tuíta o texto que modificou.

Em código das Minúcias somos apresentados a cinco novos seres digitais, antropomórficos, que aprendem por meio do que o artista chama de partículas semióticas, representando quatro estágios pré-natais e um estágio pós-natal. Seres em gestação que nos conduzem aos mistérios dos processos neurais e debates sobre a definição de vida em seres de silício, programados com 0 e 1 ao invés de G-T-C-A.

O aprendizado ganha novos contornos em Futura Pele, entre experimentos com bio-tecidos e desenvolvimento de dispositivos de computação vestível, o corpo humano, sua pele, suas roupas e seus movimentos ganham novas perspectivas pelos dados coletados e recebidos, costurados em nossas roupas e superpostos em nossas peles como novas camadas inteligentes de um corpo pós-humano.

Por fim, em acrossTIME retornamos ao princípio da vida na terra, aos estromatólitos formados pela ação das cianobactérias, e somos lançados ao futuro, com as pesquisas realizadas pelo artista em um laboratório de desenvolvimento de alimentos a serem cultivadas no espaço para suprir os pesquisadores, astronautas, moradores da estação espacial. O estromatólito desta exposição é uma síntese desta temporalidade e sobre a própria ideia de vida e sobrevivência. O que é necessário para que a vida exista e continue existindo?

Institucional

Parceiros do Edital CoMciência - Ocupação em Arte, Ciência e Tecnologia
MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal

FAD (Festival de Arte Digital) é um encontro de novas tendências das artes tecnológicas. Desde 2007, o Festival de Arte Digital vem difundindo os temas da Arte através de Novas Tecnologias. Neste período, o FAD foi premiado duas vezes nacionalmente pelo Ministério da Cultura sobre a exploração inventiva de novas tecnologias no campo da arte e da comunicação. Em 2018, realizou especialmente a primeira edição da Bienal de Arte Digital, com o tema “Linguagens Híbridas”, reforçando a reflexão sobre as aproximações entre arte, ciência e tecnologia, e com a missão de, a cada dois anos, valorizar o pensamento crítico sobre os processos digitais e tecnológicos da vida e na arte.

Ficha Técnica

Realização: MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal.
Patrocínio: Gerdau
Apoio: CBMM

Direção: Márcia Guimarães
Assessoria Direção: Mateus Nogueira
Coordenação de Programação: Alexandre Milagres
Coordenação do programa coMciência: Marina Andrade
Coordenação de Comunicação: Paola Oliveira
Coordenação de Museologia: Carlos Jotta
Coordenação de TI: Alexandre Livino
Coordenação do Educativo: Suely Monteiro
Design: Ana Paula Costa Andrade
Assessoria de Imprensa: A Dupla Informação
Assessoria Digital: Sal Estúdio Criativo
Curadoria do Edital CoMciência: Alexandre Milagres e Tadeus Mucelli
Parceria: FAD – Festival de Arte Digital
Desenvolvimento do Website: Adapta Online