Culturas Degenerativas
Sobre

Culturas Degenerativas é uma obra de arte interativa em que organismos vivos, redes sociais e Inteligência Artificial trabalham juntos para corromper o impulso humano de dominar a natureza.

Nesta rede “biohíbrida” (digital e biológica), livros físicos que documentam o desejo humano de controlar e remodelar a natureza servem de alimento para uma colônia de fungos vivos. Ao lado do livro com os microorganismos, há um monitor de computador onde se vê a ação de um fungo digital inteligente, que procura na internet e corrompe textos com o mesmo intuito predatório encontrado no livro.

Estes dois sistemas, um orgânico e outro informacional, se comunicam por meio de uma interface digital criada especificamente para este trabalho. O fungo digital integra Inteligência Artificial e algoritmos generativos (baseados em processos de crescimento de organismos vivos) com o Twitter, permitindo que qualquer pessoa possa interagir com o sistema e ajudar o processo de destruição dos textos.

Esta história da colonização do conhecimento humano pelos fungos é documentada em publicações feitas no Twitter, em @HelloFungus, como também em impressões contínuas realizadas por uma impressora térmica, que também compõe a instalação. Esta obra de arte “biohíbrida” utiliza um conjunto de tecnologias para integrar sistemas vivos e digitais em uma única rede, pela qual o fungo bio-digital responde às menções feitas por usuários do Twitter, engajando as pessoas na distribuição deste “esporos digitais”.

Este sistema bio-digital mapeia e corrompe as estruturas de pensamento predatório que têm consistentemente orientado o modo como a humanidade se relaciona com a natureza. O sistema resultante torna visível os padrões culturais entrópicos que têm conduzido a humanidade ao Antropoceno. Se as sociedades humanas são consideradas culturas biológicas sobre a Terra, nosso substrato tem sido o ecossistema global. Contraditoriamente, as sociedades humanas destroem sistematicamente este substrato, resultando em uma perda de dados acumulativa que ganha forma na extinção de espécies e na devastação ambiental.

Este comportamento tem sido concebido, planejado e justificado através de ideias como as de beleza, progresso, domesticação, lucro e superioridade do ser humano sobre a natureza. Ideias estas que, ao longo de diferentes períodos históricos, se proliferaram através da religião, da ciência, da arte, do desenho de paisagem, da filosofia, da economia e em outros contextos. O ponto de partida deste projeto é o exame crítico destes textos antigos e recentes, na busca por padrões de comportamento que poderiam levar a humanidade à desintegração.

Cesar & Lois é um coletivo que investiga a evolução do relacionamento da humanidade com a natureza, promovendo interseções entre as redes paralelas de tecnologia, sistemas biológicos e sociais. Cesar & Lois consiste no artista de mídia brasileiro Cesar Baio e na artista de mídia com sede na Califórnia Lucy HG Solomon, muitas vezes conversando e colaborando com outros artistas, cientistas e pesquisadores. Formada no verão de 2017, Cesar & Lois lançou uma série de projetos que reorientam a tecnologia e a sociedade para a natureza. Atualmente, eles estão trabalhando com a colonização fúngica dos sistemas de conhecimento humano através da fusão de redes de fungos e comunicações baseadas na Internet. Vencedor do Lumen Prize 2018 em Inteligência Artificial, o projeto “Culturas Degenerativas” insere uma lógica microbiológica na IA e desafia a divisão sócio-tecnológica entre humanidade e natureza.